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  • Tiago Moreira

Um pouco de numismática


Moedas têm valor porque são um meio para um fim, não o fim em si.

Com a queda do rei-destino e o esfacelamento do antigo império, findava o sonho de uma humanidade unificada. Aqueles foram tempos difíceis. O mundo fora horrivelmente desfigurado, as grandes cidades jaziam em ruínas, monstros e terrores rondavam nos ermos. Apesar de todas as agruras daquele novo mundo nascente, a humanidade perseverou.


Por todas as regiões, ergueram-se reinos, cidades-estado, povoados e feudos. Algumas dessas nações prosperariam e cresceriam através das eras, outras desapareceram e foram esquecidas, levadas pelas areias do tempo.


Por muito tempo, esses bastiões isolados de civilização só entravam em contato uns com os outros através da guerra. Suas economias viriam a se desenvolver, cada uma criando sua própria forma de moeda. O comércio, aos poucos, voltou a se estabelecer, mas ainda limitado a povoados geograficamente próximos.


Duas nações em particular viriam mudar essa situação.


No centro-oeste do continente, na costa do Mar de Kalimbay, a cidade-estado de Nemésia se expandira no maior e mais poderoso império da nova era, o reino de Kalimnor. Em suas bordas, o comércio, as ciências e os conhecimentos vicejaram como não se via desde a época do rei-destino.


Ao mesmo tempo, de uma pequena ilha nos mares setentrionais, nascera o reino ultramarino de Atallantys. Privada de recursos naturais, essa nação exploradora sobreviveu graças ao comércio com terras distantes, tornando-se uma potência mercante.


A expansão simultânea de Kalimnor e Atallantys gerou infinitas rotas por terra e mar, ligando as mais distantes nações. Fosse Dragona no extremo nordeste; Gaz'zira no mar noroeste, ou Miscelânea na ponta meridional do continente, eventualmente não haveria terra civilizada em que os navios atallantinos e comerciantes kalimnorianos não alcançassem.


Contudo, a pletora de moedas nacionais era ainda uma barreira para a livre troca de mercadorias. As coroas de Atallantys e Kalimnor então criaram um sistema mútuo que equivaleria suas moedas.


Era um sistema simples: cada moeda variava em tamanho, forma e cunhagem, sua equivalência seria determinada simplesmente pela pesagem do metal que a compõe. A de menor valor, o cento-avo, era feita de cobre. Acima dela estava o vintém de prata, que equivalia a dez centos-avos. Ainda mais valioso, igual a dez vinténs, era o dobrão de ouro.


A força comercial das duas nações levou várias outras a aderirem ao padrão. Assim, o comércio triunfava onde o rei-destino falhara em se impor: a humanidade estava, de certa maneira, unida.


O padrão atal-kalimnoriano não é absoluto, contudo. Moedas regionais, sem valor em terras distantes, ainda são utilizadas, especialmente para representar valores inferiores ou intermediários aos padronizados. É o caso, por exemplo, dos barões de ferro da Cornália ou dos tsu'ka, moedas perfuradas de meio valor de Gaz'zira.


Há também moedas comerciais que representam valores muito grandes, mas que não são unanimemente aceitas. É o caso do drakkar kalimnoriano, que equivale a aproximadamente uma centena de dobrões. Comerciantes e viajantes usam tais moedas para transportar fortunas, mas sua troca fora da nação original nem sempre é garantida, além de estar sujeita a taxas de conversão locais.


É preciso notar, porém, que o padrão é frequentemente desrespeitado. Nações em guerra tendem a restringem moedas com cunhagens inimigas. Também não é incomum que déspotas e nobres taxem cunhagens estrangeiras ou imponham uso exclusivo de moedas locais, na expectativa de melhor controlar seus súditos. Até mesmo as coroas de Kalimnor e Atallantys já tentaram sabotar o padrão que elas mesmas criaram.


O comércio une nações, mas tem muitos inimigos, sejam eles piratas, bandoleiros ou caravaneiros inescrupulosos. Mas os maiores de todos sempre serão os nobres e os reis, bem como as guildas que os bajulam.

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